18 de novembro de 2010

Público X Publicado

Michel Maffesoli, sociólogo francês, em seu livro Saturação, disponível no site do Observatório do Itaú Cultural, distingue "opinião pública" de "opinião publicada": "[...] nos dias de hoje, confunde-se opinião pública com opinião publicada. Esta (a publicada) não deixa de ser uma opinião, mas pretende ser um saber, uma competência, até mesmo uma ciência, ao passo que aquela (a pública) tem consciência de sua fragilidade, de sua versatilidade, em suma, de sua humanidade" (2010, p.20). Cito este trecho para pontuar a discussão que se abriu na última eleição, e que segue caminhos muito tortuosos, sobre a mídia no Brasil.

O último episódio da (con)fusão entre público e publicado no Brasil (particularmente grave devido ao monopólio no setor de comunicação) é a abertura do processo contra a presidente eleita Dilma Rousseff, que, nos anos 1970, então com 20 anos, foi presa e torturada pela ditadura militar. O jornal Folha de São Paulo solicitou a abertura, antes da votação do segundo turno. Conseguiu agora. Por que o mesmo jornal, que apoiou a ditadura, não luta para divulgar os nomes dos torturadores? Por que faz uma campanha que autoriza a ditadura, vendo-a como critério de verdade, e não como algo que deve ser criticado duramente? Vários textos discutiram essas questões, no blog de Azenha (Viomundo), no de Emir Sader (Carta Maior), no da revista Carta Capital... É deplorável a postura da maior parte da imprensa brasileira, em especial, de um jornal que trabalha sistematicamente para impedir qualquer debate pautado na reflexão e na tolerância.
É bom lembrar: eles são apenas a opinião publicada, a partir de claros interesses econômicos e políticos, não podem ser confundidos com a opinião pública.

Nenhum comentário:

Postar um comentário