27 de dezembro de 2010

tempo tempo tempo



Ana Rosa Araújo Souto, Dona Rosinha, nasceu em 12 de 12 de 1921.
Minha avó materna.
O ritmo do tempo na terceira margem do rio. Travessia.

21 de dezembro de 2010

Chegou o verão

Hora de ensaiar os passos de frevo. Agora tudo é prévia carnavalesca!




16 de dezembro de 2010

Jornada Interartes



Texto Retirado do Blogue Jornada Interartes:

Jornada Interartes é um encontro dos pesquisadores do Grupo de Pesquisas e Estudos POÉTICAS INTERARTES, cadastrado no CNPq desde 1999.

O Grupo é liderado pelas professoras Susana Souto e Gláucia Machado, da Ufal, e conta atualmente com 29 integrantes, das áreas de Letras, Filosofia, Dança, Música e Arquitetura. Pesquisadores da Ufpe, Ufpb, Ifal e Universidade Católica de Brasília também fazem parte do Grupo, que privilegia os diálogos das artes com diferentes áreas do conhecimento.

Na Jornada Interartes haverá uma síntese de algumas realizações do Grupo no ano de 2010, com apresentações de resultados de pesquisas e debates.

Às 19 horas, acontecerá o lançamento do livro de poemas MUNDO TORTO, de Gláucia Machado. O livro foi editado em tipografia artesanal pelo designer gráfico Flávio Vignoli e faz parte da Coleção Elixir, dirigida por Ricardo Aleixo, de Minas Gerais.

Flávio Vignoli e Ricardo Aleixo estarão presentes e participarão de uma conversa sobre Livros & Ideias, com a editora do caderno de cultura da Gazeta de Alagoas, Elexsandra Morone.

A Jornada Interartes acontecerá no Auditório da Biblioteca Central da Ufal, quinta-feira, dia 16 de dezembro, das 14 às 21 horas.

Não é preciso fazer inscrição para participar. Entrada franca.

Para saber mais, clique aqui

Saiu ontem no jornal Gazeta de Alagoas, o texto "Cantar com tipos", de Marcelo Marques sobre o livro de poemas de Gláucia Machado, Mundo torto. Clique no título do texto e boa leitura!


15 de dezembro de 2010

Jorge Cooper

No dia 07 de dezembro de 1911, nascia Jorge Cooper, filho de inglês e de alagoana, poeta da exatidão e da concisão.
Eu tive o prazer de conhecer Cooper, aqui em Maceió, em 1990. Eram tardes de sábado cheias de poesia e de conversas ótimas. Daquelas tardes, permanecem muitas lembranças, algumas amizades, vários poemas e duas imagens: seu sorriso largo e suas mãos magras.
Hoje, há quase cem anos do seu nascimento, será lançada a sua Poesia completa, no Museu Théo Brandão, às 18h30. Dia de comemoração, de celebração da poesia, que é de todos, leitores e lugares. Alguns poemas de Cooper. Salve, Jorge!

Poesia

Ainda hoje
embora saiba a causa
amo as tardes de água que tornam o céu
rosa em botão

-- Que se banhe o sol
nas nuvens cheias de água
Vejo a verdade enchida de ilusão

Poema 15

Cada vez mais
cada vez
é a hora do fim

Para não me afigurar
na treva imerso
dou-lhe as costas
volto-me para o que
ainda me resta
de luz

Cada vez
cada vez mais
me convenço
ser o começo
o lado direito da treva
e
o fim
o avesso da luz

10 de dezembro de 2010

Pelo livre trânsito da informação


Muitas manifestações estão acontecendo em vários lugares do mundo em defesa de Assange e do WikiLeaks. Informe-se e lute, mesmo que do seu computador, em sua casa, para que essa Infoguerra não seja decidida pelos burocratas americanos.
Veja aqui algumas formas de protesto.

9 de dezembro de 2010

Parangolé poético



Lançamento: Sábado, 11 de dezembro de 2010, das 17 às 20h. Galeria Largo das Artes Rua Luís de Camões, 02/SobradoLargo de São Francisco - Centro Rio de Janeiro


Do Site da Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro:

Livro ou livro-me -
os escritos babilônicos de Hélio Oiticica (1971-1978)

Frederico Coelho

Frederico Coelho nos põe neste livro diante de um Livro que não foi publicado, que se desdobrou em cartas, poemas, artigos, ensaios, anotações, comentários – tudo arquivado e catalogado –, que se tornou um conglomerado de ideias e manteve sempre a esperança de um dia ganhar forma. Como não poderia deixar de ser, o inacabamento alimentou outras possibilidades de escrita e encontrou nesta tese, agora livro, uma concreção singular. Abriu-se aqui um horizonte interpretativo para os escritos do artista e para a devida compreensão da dispersão criativa (de uma geração) que buscava oxigênio para um mundo intoxicado por ideologias/categorias cegadas pelas circunstâncias.
Abriu-se um novo campo de leitura para a obra de Oiticica.

250p.
ISBN: 978-85-7511-185-7

8 de dezembro de 2010

Yemanjá




O texto abaixo foi retirado do site Yorubana

Yemanjá

Dia da Semana: Sábado
Cores: Prata e azul-claro
Comida: Manjar, pipoca de arroz com casca
Saudação: Eru Lá Omi Tó!
Domínio: Maternidade e Pesca


Yemanjá é a filha de Olokum, Deusa dos Oceanos. Deusa da foz dos rios e quebra-mares é associada aos rios na África, assim como Oxum e Obá.
Conta a lenda que sua mãe Olokum deu a Yemanjá um misterioso preparado em uma garrafa para ser usado em caso de perigo. Casada com um poderoso homem em Ilé Ifé, Yemanjá foge para Abeokutá e seu marido lança seu exército para trazê-la de volta. Em perigo, Yemanjá quebra a garrafa que sua mãe lhe dera e o líquido forma um rio que a leva para o mar.

5 de dezembro de 2010

Longe do estereótipo

O antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares no Roda Viva. Nos momentos em que ele consegue falar, nós ouvimos uma voz que se afasta, e nos afasta, do estereótipo construído pela mídia hegemônica no Brasil acerca da violência urbana no Rio de Janeiro. Aqui, o primeiro bloco. No YouTube, os demais. Aviso: é preciso ter estômago forte para aguentar a maioria dos entrevistadores.

28 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro fevereiro e março (e novembro)

Quando a mídia fala em guerra no Rio, dando close nos mortos e culpando os morros, a antropóloga Ondina Pena Pereira, de Brasília, me envia o excelente texto de Luiz Eduardo Soares, "A crise do Rio e o pastiche midiático". Luiz Eduardo, autor de vários livros, transita pela antropologia, pela literatura, pelo direito. Amanhã às 22h, ele estará no programa Roda Viva, da TV Cultura, quase insuportável depois que passou a ser dirigido por Marília Gabriela.
Por coincidência, também hoje li entrevistas do geógrafo Milton Santos, reunidas pela Azougue Editorial em uma coleção chamada Encontros. Ele nos fala da violência da mídia; do projeto da classe média em preservar privilégios, ao invés de conquistar direitos; do macaqueamento dos modelos europeus ou americanos feito pela universidade brasileira que, em sua maioria, trocou a reflexão pelo carreirismo; da necessidade de aprendermos com os que habitam as cidades de outras formas, em especial, os pobres que diariamente inventam novos modos de troca, resistência, diversão.
Por que vamos comprar a visão que o Leblon tem do Rio? Como ensina Milton Santos, é preciso pensar por que reduzimos a maioria da população à noção de periferia. No mínimo, ela, a periferia, redefine o que chamamos presunçosamente de centro ou, pior, de bairros nobres.

20 de novembro de 2010

Pra quem sabe onde é Luanda

Relembrar em conjunto, esse é o sentido primeiro da palavra comemoração. Ontem, show de Rita Ribeiro. Dançante. Comemoração da Semana da Consciência Negra. Ela, comovida por estar na terra de Zumbi dos Palmares.
Quando aqui ainda era o sul da capitania de Pernambuco, chegaram os primeiros escravos. Essa história triste começou nesta terra, Gil errou quando escreveu que foi na Bahia o primeiro pelourinho. Mas, generosos e inventivos, os escravos que desembarcaram trouxeram grandes maravilhas. Muitos descendentes de Zumbi que resistiram às péssimas condições de vida fizeram deste país um lugar possível e supreendente. De Pernambuco, vem a beleza e o canto de Lia de Itamaracá. De Alagoas, Djavan.
Procuro alguma imagem ou música, para comemorar (n)este dia, e me perco em um labirinto de milreferências, caminhos para percorrer dançando, lendo, ouvindo, rindo, chorando... Escolho dançar. Vá de clique em clique em cima dos nomes: roteiro para festas. Itamar Assumpção, sempre bom de ouvir, de ver. Aqui, Itamar cantando Tim Maia, outro artista genial. Depois, Jorge Benjor com Mano Brown, celebrando um grande jogador africano: Umbabarauma, homem-gol. Daí para LUiZ MELoDIA e Naná Vasconcelos é só mais um passo animado. Jards Macalé, que toca todo dia na vitrola desta casa, também entra na festa. Elza Soares, alegria, alegria! No embalo do samba, Bezerra da Silva, humor & inteligência. E o mais elegante dos cantores brasileiros: Paulinho da Viola. Tem sempre espaço na Van pra Ed Mota. Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, dois grandes que animam qualquer festa. Chico Science, que entendeu bem a Nação Zumbi. Faltaram mais uns zil artistas, mas tenho que acabar a postagem e tomar café. Gilberto Gil e Macaco Bong, "pra afugentar o inferno pra outro lugar".

19 de novembro de 2010

Porque é sexta-feira



Cérebro eletrônico
Gilberto Gil

O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Faz quase tudo
Mas ele é mudo

O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda

Só eu posso pensar
Se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar
Quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões
De carne e osso
Eu falo e ouço. Hum

Eu penso e posso
Eu posso decidir
Se vivo ou morro por que
Porque sou vivo
Vivo pra cachorro e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
No meu caminho inevitável para a morte
Porque sou vivo
Sou muito vivo e sei

Que a morte é nosso impulso primitivo e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus
Olhos de vidro

18 de novembro de 2010

Público X Publicado

Michel Maffesoli, sociólogo francês, em seu livro Saturação, disponível no site do Observatório do Itaú Cultural, distingue "opinião pública" de "opinião publicada": "[...] nos dias de hoje, confunde-se opinião pública com opinião publicada. Esta (a publicada) não deixa de ser uma opinião, mas pretende ser um saber, uma competência, até mesmo uma ciência, ao passo que aquela (a pública) tem consciência de sua fragilidade, de sua versatilidade, em suma, de sua humanidade" (2010, p.20). Cito este trecho para pontuar a discussão que se abriu na última eleição, e que segue caminhos muito tortuosos, sobre a mídia no Brasil.

O último episódio da (con)fusão entre público e publicado no Brasil (particularmente grave devido ao monopólio no setor de comunicação) é a abertura do processo contra a presidente eleita Dilma Rousseff, que, nos anos 1970, então com 20 anos, foi presa e torturada pela ditadura militar. O jornal Folha de São Paulo solicitou a abertura, antes da votação do segundo turno. Conseguiu agora. Por que o mesmo jornal, que apoiou a ditadura, não luta para divulgar os nomes dos torturadores? Por que faz uma campanha que autoriza a ditadura, vendo-a como critério de verdade, e não como algo que deve ser criticado duramente? Vários textos discutiram essas questões, no blog de Azenha (Viomundo), no de Emir Sader (Carta Maior), no da revista Carta Capital... É deplorável a postura da maior parte da imprensa brasileira, em especial, de um jornal que trabalha sistematicamente para impedir qualquer debate pautado na reflexão e na tolerância.
É bom lembrar: eles são apenas a opinião publicada, a partir de claros interesses econômicos e políticos, não podem ser confundidos com a opinião pública.

15 de novembro de 2010

Futurível

É o nome do show que aconteceu ontem e já faz parte da história dos encontros entre gerações e artes no Brasil.
Veja fotos e saiba mais AQUI
e AQUI

Trecho do release oficial:
O espetáculo Futurivel celebra o encerramento do Fórum Internacional Geopolítica da Cultura e da Tecnologia, que se realiza na Cinemateca Brasileira do dia 11 ao dia 13 de Novembro, com curadoria de Gilberto Gil e Laymert Garcia dos Santos. Futurivel é simultaneamente a abertura do ll Fórum da Cultura Digital Brasileira, que se realiza na Cinemateca Brasileira de 15 a 17 de Novembro de 2010.

14 de novembro de 2010

Agora mesmo

Futurível. Invenção da TV para todos por todos.

12 de novembro de 2010

Antológico

Um dos momentos mais comoventes e significativos de trânsitos culturais: concerto do ministro Gilberto Gil na sede da Organização das Nações Unidas, em 21 de setembro de 2003, em Nova York; homenagem aos funcionários das Nações Unidas mortos em atentado em Bagdá. Tocando bongo: Kofi Annan, diplomata de Gana e à epoca secretário geral da ONU. Nobel da Paz 2001.
Da África, passando pelo Brasil, para o mundo, a lição: não há conserto, há concerto ou não faça guerra, faça festa.



A passagem de Gilberto Gil, um artista negro baiano, pelo Ministério da Cultura abriu um novo tempo no modo de pensar as complexas relações entre cultura e Estado no Brasil, em diálogo criativo com diversos outros campos.

Esta semana, a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Alagoas e o Observatório Itaú Cultural, com o apoio do SESI, realizaram em Maceió um evento muito significativo:o Curso de Gestão e Políticas Públicas. Pessoas das mais diversas perspectivas e áreas (pública, privada, produção, gestão, pesquisa) debateram o tema com leveza e consistência.

9 de novembro de 2010

Antídoto

Substância ou mistura que neutraliza os efeitos de um veneno.

Contra o preconceito, a alegria em forma de música, na voz de Bellô Velloso. Contra a nordestinofobia. Do cancioneiro popular, um coco de roda:

Eu trabalho o ano inteiro
na estiva de Sâo Paulo
Só pra passar fevereiro
em Santo Amaro

Depois, um pedido de proteção a Oxum, mãe das águas doces. Para celebrar:

5 de novembro de 2010

Célestin Monga

Célestin Monga, uma voz que nos vem de Camarões. Escritor, economista, um dos mais influentes pensadores africanos da atualidade, Monga esteve recentemente no Brasil, para lançar seu livro Niilismo e negritude: as artes de viver na África. Sem perder o belo sorriso, fala-nos, nesta entrevista para o programa Milênio (Globo News), sobre muito do que aproxima o Brasil dos mais de cinquenta países da África e das múltiplas formas que assume a negritude. Modos de evitar o que Chimamanda Adichie, escritora nigeriana, chama de "o perigo da história única".

4 de novembro de 2010

Leveza e Consistência

Abaixo, estão alguns trechos de um texto maravilhoso escrito por Rodrigo Nunes, publicado originalmente em 25 de outubro de 2010, no Blog de Emir Sader, Carta Maior, no qual está o texto completo. É uma reflexão séria feita com elegância. É também uma resposta para todos que disseminaram ódio, nas eleições e no período após a vitória de Dilma.

O maiô de Dona Marisa, ou: quem são os verdadeiros jecas do Brasil?

Rodrigo Nunes

Tendo recebido uma bolsa de estudos no exterior, passei quase todo o governo Lula distante do Brasil. Antes de meu retorno, no ano passado, minha única vinda ao Brasil desde 2003 fora por um mês, em janeiro de 2005. Num dos poucos momentos que tive na frente da televisão, acabei assistindo um programa (bastante conhecido) onde se discutiam os destaques do ano anterior. Muita coisa aconteceu em 2004, no Brasil e no exterior, mas uma das apresentadoras do programa optou por destacar “o maiôzinho da Dona Marisa”. Com tantos estilistas brasileiros de renome internacional, se perguntava, como pode a esposa do presidente usar uma coisinha tão jeca? Não foi nem a irrelevância da escolha, nem o comentário, mas o tom que mais me chamou a atenção: o desdém que não fazia o menor esforço em disfarçar-se, a condescendência de quem se sabe tão mais e melhor que o outro, que o afirma abertamente.

Veio-me imediatamente uma piada corrente durante as eleições de 1989, quando pela primeira vez Lula ameaçara chegar ao poder. Ele e Dona Marisa passam pela frente do Palácio Alvorada, e Lula diz a ela, “É aqui que vamos morar”; ao que Dona Marisa responde, “Ai, Lula, não! Essas janelas vão dar muito trabalho para limpar”. A piada explica tudo: no Brasil, uma camada da população tem sua superioridade sobre a outra tão garantida, que não vê necessidade de dissimular essa distância, mesmo em público. Ser ou não primeira-dama, aqui, é secundário; pode-se rir na TV da “jequice” de Dona Marisa do mesmo modo em que se faz troça do perfume que põe a empregada quando termina o trabalho, e pelo mesmo motivo – porque a patroa pode, e a subalterna, não.

Um mau momento de má televisão teve, para mim, a força de várias revelações. Em primeiro lugar, sobre o país em que eu então vivia, a Inglaterra. Um comentário desses, lá, receberia condenação pública. Alguém certamente acionaria o Ofcom, órgão que fiscaliza a imprensa, para exigir providências. Se fosse na BBC, rede pública de TV e rádio, talvez o autor fosse demitido. Não por atentar contra a esposa de uma autoridade, ou essa bizarra “liturgia do cargo” que a cada tanto se invoca no Brasil, mas por ser uma manifestação pública de preconceito. O quê tem a ensinar o livre exercício desse preconceito sobre o Brasil? O quê tem a ver com a grita (“Estalinismo! Chavismo! Retrocesso!”) cada vez que se fala em fiscalização da mídia, coisa corriqueira naqueles países (Reino Unido, Suécia, Portugal, EUA...) em que nossa elite não cansa de querer espelhar-se; e que, até hoje, pouquíssimas sejam as instituições brasileiras públicas que se comparem, em qualidade de serviço, a uma BBC?

Nos anos 70, Edmar Bacha popularizou o termo “Belíndia” como descrição do país: um pouco de Bélgica e muito de Índia, o Brasil era muito rico para poucos e muito pobre para muitos. A auto-imagem que mantém os habitantes de nossa “Bélgica” consiste em ver os dois lados da moeda sem sua conexão necessária. Para esses, o verdadeiro Brasil é o deles – branco, remediado, educado. A “Índia” sem lei do lado de fora dos muros não somente existe por si só, sem nenhuma relação causal com a riqueza do lado de dentro, como é aquilo que atrasa o país; não fosse a plebe, já seríamos Bélgica, ou seja, já não seríamos principalmente Índia. A pobreza dos pobres não resulta da má distribuição da riqueza que se gera, pelo contrário: os pobres são culpados de sua própria pobreza. Mais do que isso, o potencial sub-aproveitado do país nada tem a ver com o a maioria da população ser sistematicamente excluída na educação, nos direitos, na renda; pelo contrário, “é por conta desse povinho que o país não vai para a frente”.

Essa é a cara de uma elite pós-colonial: crê-se um ser estranho na geléia geral da colônia, padecendo num purgatório de nativos indolentes e enfermidades tropicais. Comporta-se todo o tempo como se ainda tivesse a caravela estacionada ali na costa, pronta para zarpar de volta à metrópole. Mas sofre mais ainda porque, não muito no fundo, sabe que não pode voltar, e que chegando lá será apenas mais um subdesenvolvido, um imigrante, um “moreninho”, um jeca. Parte de sua truculência vem de saber que jamais será aquilo que quer ver no espelho, e que aquilo que menos quer ser é o que realmente é; de precisar provar para si que é diferente de quem exclui e discrimina, já que nunca será igual a quem gostaria de ser.

[...]

Talvez seja apenas no momento em que a Europa regride que a elite brasileira poderá, enfim, realizar seu sonho: juntar-se a seus “iguais” de ultramar na vanguarda de um retrocesso que mobiliza o medo e o reacionarismo mais rasteiro contra direitos e instituições historicamente conquistados. Afinal, a “lavagem de votos” da extrema-direita, pela qual o centro dá uma cara “respeitável” ao conservadorismo “selvagem”, tornou-se o maior negócio político de nossos tempos. (Quem sabe mesmo, agora, a extrema-direita comece a prescindir de intermediários: ver o PVV de Geert Wilders na Holanda.)

Rasgada a fantasia, fica tudo claro. Quem quer Estado apenas na medida em que este garante privilégios; quem tira os sapatos no aeroporto de Miami e entra na justiça para que o porteiro o chame de “doutor”; quem troca direitos por capacidade de consumo; quem sonega impostos e abomina as gambiarras e “gatos” das favelas; quem se queixa da falta de autoridade e do “jeitinho”, mas suborna o policial e espera que as legislações ambientais ou trabalhistas não se apliquem aos seus negócios; quem ainda se comporta como se estivesse com a caravela ancorada, sem nenhum interesse no país a não ser o lucro rápido para partir de novo, e então se queixa de um pais que não “vai para frente” – esses são os verdadeiros jecas do Brasil. A boa noticia é que, pelo menos por hora, eles estão perdendo.

(*) Rodrigo Nunes é doutor em filosofia pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres, pesquisador associado do PPG em Filosofia da PUCRS (com bolsa PNPD – CAPES), e editor da revista Turbulence (www.turbulence.org.uk).

3 de novembro de 2010

Nordestinofobia

Reproduzo abaixo trechos do texto de Rodrigo Viana postado em seu blog, onde pode ser lido integralmente. É preciso pensar seriamente nessas coisas e também é preciso reagir.

Não ao fascismo!
Serra plantou ódio, e o Brasil colhe preconceito: as manifestações contra nordestinos na internet

publicada terça-feira, 02/11/2010 às 21:49 e atualizada terça-feira, 02/11/2010 às 22:51

O vídeo que reproduzo abaixo – e também na janela ao lado- é de revirar o estômago. [...]



A campanha conservadora movida pelos tucanos, a misturar religião e política, trouxe à tona o lodo que estava guardado no fundo da represa. A lama surgiu na forma de ódio e preconceito. Muita gente gosta de afirmar: no Brasil não há ódio entre irmãos, há tolerância religiosa. [...]

Como se vê no vídeo acima, não foi só a tal Mayara (estudante de Direito!!!) que declarou ódio aos nordestinos. Há muitos outros. Com nome, assinatura. É fácil identificar um por um. E processar a todos! O Ministério Público deveria agir. A Polícia Federal deveria agir.

[...]

Desde domingo, muita gente já fez as contas e mostrou: Dilma ganharia de Serra com ou sem os votos do Nordeste. Não dei destaque a isso porque acho que é – de certa forma – uma rendição ao pensamento conservador. Em vez de dizer que Dilma ganhou “mesmo sem o Nordeste”, deveríamos dizer: ganhou – também – por causa dos nordestinos. E qual o problema?

E deveríamos lembrar: Dilma ganhou também com o voto de quase 60% dos mineiros e dos moradores do Estado do Rio.E ganhou com quase metade dos votos de paulistas e gaúchos.

Parte da imprensa – que, como Serra, não aceita a derrota e tenta desqualificar a vitoriosa - insiste no mapinha ”Estados vermelhos no Norte/Nordeste x Estados azuis no Sul/Sudeste”. O interessante é ver - aqui - a votação por municípios, e não por Estados: há imensas manchas vermelhas nesse Sul/Sudeste que alguns gostariam de ver todo azulzinho.

No Sul e no Sudeste há muita gente que diz: “não ao ódio”. Se essa turma de mauricinhos idiotas quiser brincar de separatismo, vai ter que enfrentar não apenas o bravo povo nordestino. Vai ter que enfrentar gente do Sul e Sudeste que não aceita dividir o Brasil.

[...]

1 de novembro de 2010

"O mundo está falando, você está ouvindo?"

Esse é o slogan do Global Voices, que "procura agregar, selecionar e amplificar a conversação global online – iluminando locais e pessoal que outras mídias geralmente ignoram. Trabalhamos para desenvolver ferramentas, instituições e relacionamentos que ajudarão todas as vozes, em todos os lugares, a serem ouvidas."

Eles tem um projeto amplo de elaboração e tradução de textos. Saiba mais, divulgue, participe de redes que constroem outras paisagens no mundo da mídia.

Clique aqui e veja o Projeto Língua

31 de outubro de 2010

Dia de FESTA!!!!




Foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil!
Grande dia! Contra a igreja reacionária, católica e protestante, contra os defensores da ditadura, contra o Partido da Imprensa Golpista, contra @s obscurantistas, @s autoritári@s, @s misógin@s, @s homofóbic@s, contra tod@s que não respeitam a diversidade e a pluralidade!

Valeu Brasil que pensa e é tolerante!
Agora, vamos dançar e comemorar!

Política & Humor

A filósofa Marilena Chauí nos lembrou que política é emoção.
Neste segundo turno, nos indignamos com o PIG, Partido da Imprensa Golpista (que continua atuando), com as calúnias abjetas orquestradas pela extrema direita e seu candidato.
Mas também nos comovemos com Lula, com Dilma, com o povo brasileiro, nossos artistas, nossos intelectuais, que demonstraram sua força com imagens, falas e músicas. Sem humor, não há inteligência, reflexão, amor.
Hoje, vamos eleger a primeira mulher presidente do Brasil com alegria, e depois vamos comemorar em todos os ritmos deste país que quer seguir cantando, dançando, mudando!

29 de outubro de 2010

Universidade

Saiu no site porque política se discute clique aqui e veja os vídeos

O emocionante Ato Pró-Dilma na USP

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Quase duas mil pessoas se reuniram na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP para declarar apoio à candidatura Dilma.

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alfredobosi “O nosso voto não é cego, é crítico; por isso mesmo firme e responsável. Votamos em Dilma Rousseff” – Prof. Alfredo Bosi.

27 de outubro de 2010

Dia de alegria!

Hoje, o presidente Lula faz 65 anos. Em seu dia, um poema que nos diz, assim como a vida desse brasileiro, desse nordestino forte, que "o presente é tão grande" e que o poeta é aquele que cria, que transforma.

Parabéns para ele e para tod@s que superaram o medo, o preconceito, o estereótipo, e apostaram e continuam apostando que o Brasil merece o melhor!
    Mãos dadas
    Carlos Drmmond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

26 de outubro de 2010

Saiu aqui: Rede Brasil Atual

Na USP, ato pró-Dilma destaca diferença de projetos

Segundo Marilena Chauí, José Serra não tem "respeito pela dignidade do sagrado e pelo ecumenismo religioso"

Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual

Publicado em 26/10/2010, 10:55

Última atualização às 11:44

Na USP, ato pró-Dilma destaca diferença de projetos

Alfredo Bosi (à mesa, o quarto da direita para a esquerda) criticou atuação da "imprensa marrom do papel couché" por ataques sistemáticos a Dilma Rousseff (Foto: Alci Matos/Divulgação)

São Paulo – A diferenciação de projetos políticos e a construção de uma força suprapartidária para eleger a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, dominou os discursos na noite da segunda-feira (25), na capital paulista. O ato convocado por professores universitários, estudantes e intelectuais reuniu perto de 2 mil pessoas, no prédio da História e Geografia da USP, e foi marcado por sérias críticas à política educacional do governo do PSDB e à campanha eleitoral do candidato José Serra, classificada de "obscura" e "obscena".

Primeiro a discursar, o filósofo e professor universitário Vladimir Pinheiro Safatle alertou o público para as consequências da incapacidade de perceber as diferenças entre os projetos do PT e do PSDB para o futuro do país. "Isso indica a incapacidade de pensar sobre política". O pesquisador criticou a aliança do PSDB no segundo turno com setores mais reacionários da igreja e da direita e avisou: "o Brasil pode esperar o pior". "O candidato para se impulsionar fez alianças com setor mais reacionário da igreja e da direita", detectou.

Na mesma linha, Heloísa Fernandes, filha de Florestan Fernandes, relatou que se seu pai estivesse vivo, certamente estaria na USP para marcar posição pró-Dilma. "Se vivo fosse ele estaria no meu lugar falando para vocês", afirmou em meio a aplausos do público.

Heloísa lembrou o que cada candidato disse publicamente sobre os movimentos sociais e que suas manifestações demonstram a diferença entre projetos. Ela analisa que Dilma demonstrou respeito pela ação e pelas pautas dos movimentos sociais, enquanto Serra avalia que o movimento social não pode ter atuação política. "Se Serra vencer será sem orgulho. Dilma, se vencer, será a primeira mulher presidente do Brasil e terá muito do que se orgulhar", citou.

Lizete Arelaro, diretora da Faculdade de Educação da USP, enfatizou a dificuldade de José Serra, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, em lidar com a educação e com os movimentos sociais ao lembrar da invasão do campus da universidade pela Polícia Militar em 2009. "Eu gostaria de lembrar que o primeiro ato de José Serra quando foi prefeito de São Paulo foi terceirizar creches, a cultura, esporte e saúde". A diretora também criticou as ações da Secretaria Estadual de Educação que distribuiu "jornalzinho" e apostilas orientando como os professores deveriam se portar em sala de aula, com indicação de frases e comportamentos. "O professor entra na sala de aula, diz bom dia e sorri", cita a professora universitária. Para Lizete, o governo Serra foi marcado por privatizações "por dentro" do estado.

Celso Antonio Bandeira de Mello, professor de Direito da Pontificia Universidade Católica (PUC-SP) criticou o que chamou de "baixeza e campanha vil", do PSDB. Para Mello, os veículos de comunicação da grande mídia comercial só souberam rosnar e destilar ódio, baixeza e indignidades contra Dilma.
O professor deu ênfase ao sofrimento de Dilma durante a ditadura. "Ela deu testemunho com seu sangue, sua coragem, seu amor na luta contra a ditadura."

Sem luz

Gilberto Bercovici, professor da Faculdade de Direito da USP, lembrou a falta de recursos das universidades federais no governo Fernando Henrique Cardoso. "As federais não tinham dinheiro para pagar a conta de luz", descreveu. Ele denuncia que há políticos que têm desprezo pela universidade pública, "embora posem de intelectuais". Bercovici também criticou o "obscurantismo ressuscitado dos porões da direita brasileira", durante a campanha eleitoral.

Milton Luna, ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) citou sua experiência à frente da UFScar, durante a gestão de FHC, quando faltavam recursos para pagar as contas e para investimentos em expansão das atividades. Luna também condenou a lei que impediu a expansão das escolas técnicas no governo tucano.

Para ele, a gestão de Fernando Henrique na educação foi marcada pela submissão ao Banco Mundial que "pedia que deixasse de investir em pesquisa e tecnologia" e privatizasse a educação.

Esforço suprapartidário

O professor e escritou Alfredo Bosi discursou em nome do suprapartidarismo e condenou a desmemória extraordinária da população. Segundo Bosi, Dilma "pagou duas vezes o preço pela causa democrática". A primeira vez quando foi presa e torturada durante a ditadura militar e agora, pela segunda vez, quando "marqueteiros venais e a imprensa marrom do papel couché" passaram a atacá-la sistematicamente. Ele acredita que Dilma "encarna um projeto social forte e dinâmico".

Bosi também foi enfático nas críticas quanto ao uso da religião com motivação eleitoral. "A direita está abusando da crença religiosa e convertendo em moeda de troca eleitoral. É uma prática ignóbil do sentimento sagrado", disparou. Ele analisa que as demonstrações de conservadorismo revelam que liberais só permanecem no centro enquanto não são confrontados. No momento da disputa política, eles "derrapam para a direita".

O senador Eduardo Suplicy participou do ato e emocionou a plateia ao descrever o depoimento de Dilma Rousseff, em 2008, quando era ministra-chefe da Casa Civil e foi convocada pelos partidos de oposição ao governo para falar sobre possível levantamento de gastos pessoais de FHC e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Além de justificar que o levantamento era pedido do Tribunal de Contas e não ação política, Dilma atestou sua coragem, segundo Suplicy, ao ser coagida pelos deputados sobre a veracidade de seu depoimento e contar que na ditadura foi presa e torturada aos 19 anos e mentiu para que amigos não fossem mortos. Dilma afirmou que o fato ocorreu durante a ditadura e que na democracia, a verdade dos fatos deve prevalecer. "Naquela ocasião eu não falei tudo que eu sabia, porque seria a morte dos meus companheiros. Hoje estamos vivendo numa democracia e o que eu falo é a verdade", narrou com voz embargada Suplicy sobre o depoimento de Dilma, que ela acompanhou pessoalmente.

O senador fez um forte apelo aos militantes do PT para que a reta final da campanha transcorra em paz. "Vamos criar um clima de paz e democracia pra valer".

Integração de programas

A filósofa e professora universitária Marilena Chauí defendeu os programas sociais do governo Lula e condenou as críticas ao Bolsa-Família. "O PSDB diz que são esmolas."

Para a filósofa, os programas sociais criaram um novo panorama em que as mulheres são protagonistas. Ao serem as titulares de programas sociais, as mulheres cuidam da família e com o que sobra trabalham em cooperativas, melhoram a situação não só de quem está à sua volta mas de toda uma comunidade, ensina. "As mulheres ocuparam um lugar na história como nunca dantes no Brasil", afirmou.

Marilena enfatizou a conexão entre os programas do governo federal. "Há integração nas ações sociais, no plano econômico e na educação", explica. A principal mudança implantada por Lula, ela avalia que foi a forma de ver o país e os brasileiros. "O governo mudou a direção do olhar do Brasil."

A filósofa destacou a importância das eleições de 31 de outubro para o futuro do país e especialmente na área educacional e tecnológica. "A diferença nas áreas de ciência e tecnologia são impressionantes no governo Lula". Mas, lamentou a posição conservadora de alguns professores da USP. "Com todas essas mudanças é espantoso conversar com os professores da USP".

Marilena alertou o público para uma possível articulação de ações violentas para incriminar o PT nos últimos dias do pleito e comparou o caso a um novo episódio "Abílio Diniz agora".

Na visão da professora universitária, a campanha tucana passou do deboche do primeito turno para a obscenidade do segundo turno. Ela também criticou os santinhos distribuídos pelo candidato José Serra com a imagem de Jesus Cristo associada à sua campanha. "Nenhum respeito pela dignidade do sagrado e pelo ecumenismo religioso", disparou.

"Isso é obsceno em termos da nossa memória. Quando eu vi José Serra trazendo pela porta da frente com pompa e cerimônia a Opus Dei e a TFP (a Sociedade Brasileira de Defesa de Tradição, Família e Propriedade) que foram os dois grandes pontos da ditadura militar, isso é uma afronta, um escárnio da nossa memória", encerrou aplaudida de pé pela plateia.

O professor Antonio Candido enviou nota em que apoia o governo Lula por manter o país nos trilhos. Dalmo Dallari não compareceu mas sua mensagem citou que viajando pelo país é possível ver "como a mudança no campo dos direitos humanos é gigantesca".

Adolfo Hansen, Flávio Aguiar de Berlim, Laura de Mello e Souza tiveram suas declarações de voto lidas para a plateia.

24 de outubro de 2010

Educação: leia e compare

Saiu no Observatório da Imprensa

Dia do Professor em época de eleição

Por Gabriel Perissé em 19/10/2010

O Dia do Professor deste ano coincidiu com a disputa em segundo turno pela Presidência da República. Sem esta circunstância em jogo, os candidatos Dilma e Serra não se sentiriam chamados a se manifestar, pelo menos em tenso clima de campanha, sobre a realidade e o futuro da educação. A duas semanas da decisiva votação, como pretendem nos convencer de que é possível uma educação de qualidade no Brasil? E como vão conquistar os professores brasileiros, uma das categorias mais (romanticamente) louvadas em sua data comemorativa e tão desvalorizada ao longo das últimas décadas, do ponto de vista profissional e salarial?

Entre as grandes contribuições de José Serra para as escolas de São Paulo aponta-se a ideia de que haja "duas professoras" nas salas da 1ª série do ensino fundamental. Não se esclarece, porém, o que em outros momentos Serra admite. Que se trata, não de uma segunda professora, mas de uma estudante universitária que recebe uma "espécie de bolsa" (cf. entrevista para o programa Roda Viva, em 21/06/2010). Uma "auxiliar" sem experiência, em situação tão ou mais precária do que a dos milhares de professores temporários na rede de ensino estadual de São Paulo (ver, neste Observatório, meu artigo "O temporário e o precário").

O programa do PSDB no dia 15 de outubro, veiculado no rádio, quis descolar Dilma da performance petista: "Não consegui lembrar nada que a Dilma tenha feito pela educação", disse um dos locutores. E a outra respondeu: "É que ela mesma realmente não tem mesmo nada pra mostrar."

Condições de trabalho

No mesmo dia 15, na TV, a propaganda de Dilma mencionou, com relação à educação, que a futura presidenta pretende construir muitas creches e escolas, além de criar mais escolas técnicas. No rádio, a mensagem de Dilma foi objetiva e sóbria: "Não basta celebrar o mestre, mas sim, valorizar de fato o seu trabalho, garantindo formação continuada e remuneração digna." E sobre isso insistiu, quase com as mesmas palavras, ao despedir-se no debate do dia 17 de outubro, pela Rede TV.

José Serra proclama ter "carinho pela educação", coisa que os docentes desmentem, em especial os que trabalham em São Paulo e experimentam há quase duas décadas o "carinho" do PSDB, incluindo os cassetetes dos policiais. Um crescente número de professores universitários, de instituições públicas e privadas, acaba de lançar um manifesto, cujo texto começa assim:

"Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país."

A Folha de S.Paulo, que apoia as medidas do governo do PSDB na área educacional, mostrou-se preocupada no principal editorial deste domingo (17/10), "Estresse na escola":

"A última sexta-feira, Dia do Professor, não foi data para muita comemoração. A educação no Brasil vai mal, já se aprendeu. Mas nem todos sabem, ou querem saber, que os docentes também participam dessa tragédia nacional como vítimas.

"[...] A deterioração dos relacionamentos em classe tem como sintoma mais visível o estresse dos professores – alguns deles submetidos a situações extremas, como ameaças de morte.

"Por mais que se imagine a ocorrência de abusos na concessão de licenças médicas por problemas emocionais, os números chamam a atenção. De janeiro a julho deste ano elas chegaram a 19.500 na rede estadual de São Paulo.

"[...] O governo estadual precisa fazer algo a respeito, mas o alcance de sua ação é limitado. Seria um bom começo melhorar as condições gerais de trabalho, aprofundando as políticas de reduzir a um mínimo as vagas de professor temporário e de valorizar a função, por meio de aumentos na remuneração básica ou de prêmios por desempenho e requalificações."

Mais empenho com trabalho de Haddad

Se depender do "carinho" do PSDB pela educação, esse estresse aumentará, com a volta de Geraldo Alckmin, agora sem a ajuda de quem foi outrora seu afilhado político, o ex-secretário da Educação Gabriel Chalita, que contrabalançava, com a visão de mundo "cançãonovista", a truculência típica da direta "católica".

Na hipótese de Serra vencer, o modelo paulista será transplantado para todo o país. O MEC voltará para as mãos de Paulo Renato Souza. O bônus (ver meu artigo "Mais ônus do que bônus", neste OI) e a auxiliar na sala de aula, medidas tacanhas e insuficientes, serão implantadas Brasil afora. Teremos na educação um triste passado pela frente!

Por seu lado, Dilma tem a seu favor as realizações do MEC, à frente do qual Fernando Haddad está entre os ministros que mais contribuíram para a boa avaliação da gestão Lula. A luta pelo piso salarial mínimo do professor, o ProUni e a criação e expansão das universidades federais são algumas das muitas iniciativas que a candidata do PT deveria divulgar com mais ênfase, reações positivas à queda de qualidade do ensino a que assistimos desde a década de 1980.

Dilma teria de apropriar-se com mais empenho do trabalho de Haddad. Sua assessoria considera essa questão menos relevante? Se eleita, terá de confiar em alguém à altura do que o atual titular da pasta realizou desde 2005. Esse trabalho de cinco anos ainda trará boas notícias até o final de 2010, como a oficialização do esperado Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente.

Ato em defesa da universidade pública

Públicado no Portal Luis Nassif

Ato pró-Dilma na USP reunirá intelectualidade nesta segunda


No dia 25 de outubro, segunda -feira às 18h00, acontecerá um ato suprapartidário pró-Dilma na USP com a presença de vários professores universitários, entre eles os ilustres Antonio Candido, Alfredo Bosi, João Adolfo Hansen e Marilena Chauí.

Segundo os organizadores, "será um ato de professores, alunos e todos os que quiserem vir à USP, pelo Brasil e pela USP, a mesma USP que na greve de 2009, o então governador José Serra mandou a PM invadir e bombardear com bombas, gás lacrimogênio, spray de pimenta, balas de borracha, enfim, só o 'carinho' e o 'amor' que o Serra sabe proporcionar. É assim que ele trata os membros de uma Universidade, esse é o respeito que ele tem pelo estudo e pela pesquisa desse país, é assim que ele trata professores."

Ato em defesa da universidade pública


21 de outubro de 2010

Boas notícias de uma política séria

Mercado de trabalho segue bastante aquecido


- Diante de mais uma divulgação de dados favoráveis no mercado de trabalho, mantemos nossa avaliação de que o consumo das famílias deve se sustentar em ritmo forte até o final deste ano. A taxa de desemprego de setembro atingiu novo recorde de baixa, ao mesmo tempo em que os indicadores de rendimento do trabalho e massa mantiveram a trajetória de aceleração, verificada há alguns meses.


- A taxa de desemprego atingiu 6,2% em setembro, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada hoje pelo IBGE. Esse resultado surpreendeu positivamente nossas expectativas (6,4%) e as do mercado (6,5%), lembrando que, em agosto, a taxa havia sido 0,5 p.p. superior àquela divulgada hoje. Assim, em comparação com o mesmo mês do ano passado, a taxa de desemprego é menor em 1,5 ponto percentual e representa o patamar mais baixo da série histórica, iniciada em 2002. Em termos dessazonalizados pelo DEPEC-Bradesco, a desocupação de setembro ficou também em 6,3%, abaixo do registrado em agosto (6,6%).


- Contribuindo para mais uma redução do desemprego, observamos aceleração do ritmo de crescimento da população ocupada, em relação ao mesmo mês do ano passado, que passou de 3,2% em agosto para 3,5% em setembro. Vale também destacar o crescimento interanual de 8,6% do número de trabalhadores com carteira assinada. A população economicamente ativa (PEA), por sua vez, continuou avançando, com alta de 1,9% em relação a setembro do ano passado, após crescimento de 1,7% em agosto, nesta base de comparação.


- Por fim, destacamos novamente o desempenho da renda do trabalhador: o rendimento médio habitual chegou a R$ 1.499,00, o que representa expansão interanual de 6,2% em termos reais, acelerando ante agosto (5,5%). Dentre suas categorias, serviços domésticos e comércio apresentaram as maiores altas, de 9,6% e de 7,8% na base de comparação interanual, respectivamente. A massa salarial, na mesma direção, registrou alta de 10,1% ante setembro do ano passado, alta ainda mais forte do que no mês anterior (8,8%).


Octavio de Barros


Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos – BRADESCO


Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos

Saiu aqui

20 de outubro de 2010

Em defesa do Brasil

Professores lançam manifesto em defesa da educação pública

Nomes como Antônio Cândido, Fábio Konder Comparato, Marilena Chauí, Emília Viotti da Costa, Maria Victoria Benevides, Alfredo Bosi e Carlos Nelson Coutinho estão entre os assinantes

Professores universitários, de faculdade públicas e particulares, lançaram um manifesto e ainda estão colhendo assinaturas contra as propostas e os métodos políticos do candidato a presidência da República José Serra. E defendem um sistema educacional que priorize o ensino superior público.

Leia abaixo a íntegra do manifesto:

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.

Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação, manipulando dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

Antonio Candido, USP

Alfredo Bosi, USP

Fábio Konder Comparato, USP

Joel Birman, UFRJ

Carlos Nelson Coutinho, UFRJ

Otávio Velho, UFRJ

Marilena Chaui, USP

Walnice Nogueira Galvão, USP

Renato Ortiz, Unicamp

Laymert Garcia dos Santos, Unicamp

Dermeval Saviani, Unicamp

Laura de Mello e Souza, USP

Maria Odila L. da Silva Dias

Sergio Miceli, USP

Luiz Costa Lima, Uerj

Flora Sussekind, Unirio

João José Reis, UFBA

Ruy Fausto, USP

Franklin Leopoldo e Silva, USP

João Adolfo Hansen, USP

Eduardo Viveiros de Castro, UFRJ

Emilia Viotti da Costa, USP

Newton Bignotto, UFMG

Wander Melo Miranda, UFMG

Juarez Guimarães, UFMG

Heloisa Fernandes, USP

Maria Victoria de Mesquita Benevides, USP

Glauco Arbix, USP

Vera da Silva Telles, USP

Theotonio dos Santos, UFF

Ronaldo Vainfas, UFF

Gilberto Bercovici, USP

Benjamin Abdalla Jr., USP

Enio Candotti, UFRJ

Angela Leite Lopes, UFRJ

Sidney Chalhoub, Unicamp

Arley R. Moreno, Unicamp

Maria Ligia Coelho Prado,USP

Celso F. Favaretto, USP

José Castilho de Marques Neto, Unesp

Emir Sader, Uerj

Scarlett Marton, USP

José Sérgio F. de Carvalho, USP
José Arbex Jr., PUC-SP

Peter Pal Pelbart, PUC- SP

Viviana Bosi, USP

Irene Cardoso, USP

Wolfgang LeoMaar, UFSCar

João Quartim de Moraes, Unicamp

Léon Kossovitch, USP

Vladimir Safatle, USP

Leda Paulani, USP

Ildeu de Castro Moreira, UFRJ

José Ricardo Ramalho, UFRJ

Ivana Bentes, UFRJ

Cibele Saliba Rizek, USP

Afrânio Catani, USP

Sergio Cardoso, USP

Ricardo Musse, USP

Armando Boito, Unicamp

Enid Yatsuda Frederico, Unicamp

Andréia Galvão, Unicamp

Cynthia Sarti, Unifesp

Luiz Roncari, USP

Flavio Aguiar, USP

Iumna Simon, USP

Luis Fernandes, UFRJ

Marcos Dantas, UFRJ

Laura Tavares, UFRJ

Sérgio de Carvalho, USP

Marcos Silva, USP

Alessandro Octaviani, USP

Ligia Chiappini, Universidade Livre de Berlim

Celso Frederico, USP

José Carlos Bruni, USP

José Jeremias de Oliveira Filho, USP

Sebastião Velasco e Cruz, Unicamp

Liliana Segnini, Unicamp

Maria Lygia Quartim de Moraes, Unicamp

Ladislau Dowbor, PUC-SP

Bernardo Ricupero, USP

Adriano Codato, UFPR

Lygia Pupatto, UEL-PR

Henrique Carneiro, USP

Adélia Bezerra de Meneses, Unicamp

Maria Lúcia Montes, USP

Francisco Rüdiger, UFRS

Luís Augusto Fischer, UFRGS

Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, PUC-SP

Gil Vicente Reis de Figueiredo, UFSCar

Carlos Ranulfo, UFMG

Paulo Benevides Soares, USP

André Carone, UFScar

Heloisa Buarque de Almeida, USP

Emiliano José, UFBA

Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero

19 de outubro de 2010

Intelectuais e artistas se unem em ato pró-Dilma

agestado

Com a rara presença do cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, que só perdeu em aplausos para o arquiteto Oscar Niemeyer, mais de mil artistas, intelectuais e militantes reuniram-se ontem em um ato em apoio à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, no Teatro Casa Grande, tradicional ponto de encontro e espetáculos da esquerda carioca, na zona sul do Rio. Os manifestantes entregaram à Dilma um documento com mais de 10 mil assinaturas, muitas delas de eleitores de Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), no primeiro turno.

Chico Buarque fez um rápido pronunciamento com elogios à Dilma e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Essa mulher de fibra, que já passou por tudo, não tem medo de nada. Vai herdar o senso de justiça social, um marco do governo Lula, um governo que não corteja os poderosos de sempre, não despreza os sem-terra, os professores, garis. Um governo que fala de igual para igual com todos, que não fala fino com Washington, nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai", disse.

Em seu discurso, Dilma procurou marcar as diferenças de sua candidatura e a de Serra: "Nós não achamos que crescimento social é uma alegoria de mão ou um anexo. É isso que nos distingue radicalmente dos nossos adversários", afirmou. Dilma insistiu no discurso de que os tucanos retomariam o processo de privatização se voltassem ao poder. "O que está em questão nessa eleição é o que eles farão com o pré-sal e também com a Petrobras. Além do manifesto de artistas e intelectuais, a petista recebeu outros dois documentos de apoio à sua candidatura - um organizado por advogados e outro por religiosos.

Publicado em http://br.eleicoes.yahoo.net/noticias/4226/intelectuais-e-artistas-se-unem-em-ato-pr-dilma.html

Nordeste e eleições 2010

O voto do Nordeste

Por Tânia Bacelar Araújo

A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não “soubesse” votar.

Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o “Bolsa Família” serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo “Bolsa Família”), os “grotões”- como nos tratam tais analistas – teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).

A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.

A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.

Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização – que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns “clusters” (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro…) enquanto nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.

Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou – junto com o Norte – as vendas no comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.

Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas previstas) e em patrocinar – via suas compras – a retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.

Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura – foco principal do PAC – que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil “bombou” na região.

A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais – antes fortemente concentrados no Sudeste – dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira “cidade da ciência” num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).

Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro – safra , Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga 43% da população economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.

Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.

Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão – como antes – da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados – alguns ainda insipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, “Bolsa Família”), mas uma região plena de potencialidades. 

Textoo publicado em http://www.cartacapital.com.br/politica/o-voto-do-nordeste

17 de outubro de 2010

Para esclarecer

Carta aberta à CNBB: Crime eleitoral

Carta Aberta à CNBB.

São Paulo 17 de outubro de 2010.

Como membro da CJP-SP fui chamado pelo Deputado Estadual Adriano Diogo a registrar o flagrante de crime eleitoral na Editora Gráfica Pana LTDA, que foi contratada pelo Bispo Diocesano de Guarulhos para reproduzir 2,1 milhões de panfletos falsos da CNBB e estava para distribuir, ontem, pelo país 1,1 milhão de cópias do material e fiz estes registros, por ter ciência da orientação de nossa Comissão Brasileira de Justiça e Paz a partir do documento que li, recebido dias atrás sobre a falsificação de panfleto em nome da CNBB.

A encomenda foi realizada a pedido Mitra Diocesana de Guarulhos conforme imagens abaixo, a saber: email de encomenda, cópia do boleto bancário e carta de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini ao Pe. Jean Rogers Rodrigo de Souza, solicitando distribuição, que encaminho também anexo para divulgação, uma vez que constituem a documentação probatória da encomenda e do crime eleitoral praticado.

A gráfica iria entregar 2,1 milhões de panfletos, cuja informação fornecida pelo gerente da empresa pego em flagrante, pode variar em sua tiragem de 20 a 50 milhões. Foram apreendidos somente 1 milhão dos panfletos falsos, cuja liminar de apreensão já foi expedida pelo juiz responsável. Isso significa que muitos panfletos podem ter sido feitos em outras gráficas e continuarão a ser distribuído pelo país, caso não haja uma ação efetiva da CNBB.

Penso que nossos Bispos devam considerar, dada a gravidade dos fatos, encaminhar a Nota de Esclarecimento elabora no encontro de Itaici, para ser lida em todas as paróquias, em todas as missas do próximo domingo, sua publicação no Jornal O São Paulo e demais revistas e jornais católicos, bem como a leitura nas Tvs e rádios da igreja, buscando por fim ao assunto.

Recomendo esta atitude para nossos pastores reunidos em Itaici, entendendo ser este um gesto que favorecerá a distensão dos mal-entendidos provocados, visando o amplo esclarecimento dos fiéis que receberam tal documento apócrifo e criminoso, sobre a real posição de nossos bispos do Regional 1 e da CNBB, contribuindo desta forma para serenarmos os conflitos gerados entre os católicos, reafirmando a integridade da CNBB e reforçando a cidadania, a democracia e a livre escolha de todos os brasileiros, tão atingidas com esta manifestação difamatória, que desvirtua o foco do debate que interessa à nação e o sentido das eleições de 2010.

A cisânia que a calúnia, as ofensas e as mentiras imputadas geram entre aos cristãos, por ações como está promovida pelo Bispo Diocesano de Guarulhos, estão explicitadas de forma dramática nos fatos que ocorreram hoje em Canindé, no Ceará, onde a missa acabou em TUMULTO, uma vez que o padre corretamente, informou aos presentes que o documento que estava sendo distribuído na missa era falso e acabou sendo atacado por um político, durante a celebração. Pergunto aos nossos Bispos da CNBB; quando na igreja uma missa tão tradicional como a de Canindé, acabou desta maneira? Os fatos demonstram a gravidade do momento e a tentativa de aparelhamento do sentimento religioso em nosso país, conforme nota publicada pla CNBB.

Faz-nos refletir a justeza das palavras da candidata Dilma Rousseff, divulgadas na imprensa recentemente, sobre a campanha de ódio que estas ações subterrâneas estão gerando nos corações e mentes dos brasileiros por todo nosso país. Isso pode ficar mais grave ainda, se não for feita uma ampla campanha de esclarecimento junto aos fiéis. A CNBB e o país tem muito a perder com isso. É preciso por um basta a esta campanha baseada na mentira, na calúnia, na difamação!

Só a Verdade nos libertará.

Atenciosamente:

Marcelo Zelic

Vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo
Coordenador do Projeto Armazém Memória

14 de outubro de 2010

Em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade

Veja abaixo o resumo do Manifesto Filósofos Pró-Dilma.

Entre os signatários do manifesto encontram-se Oswaldo Porchat Pereira, Marillena Chauí, Wolfgang Leo Maar, Guido Antônio de Almeida, Raul Landim Filho, Andrea Loparic, Manfredo Araújo de Oliveira, Jacyntho Lins Brandão, João Quartim de Moraes, Luiz Roberto Monzani, Virginia de Araujo Figueiredo, Scarlett Marton, Vladimir Pinheiro Safatle, Newton Bignotto, João Vergílio Gallerani Cuter, Ernesto Perini Santos, Paulo Francisco Estrella Faria, Roberto Horácio de Sá Pereira, Robson Ramos dos Reis, Ethel Menezes Rocha, Alfredo Carlos Storck, Vinicius de Figueiredo.

Versão resumida

Professores e pesquisadores de Filosofia, abaixo assinados, manifestamos nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Seguem-se nossas razões.

Os oito anos de governo Lula constituíram um formidável movimento na direção da construção de uma sociedade livre, justa e solidária, por meio da redução das desigualdades sociais e regionais e da luta pela erradicação da pobreza, objetivos expressos na Constituição da República Federativa do Brasil. Nesses oito anos, a pobreza foi reduzida em mais de 40%; mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe média; a desigualdade de renda sofreu uma queda palpável. Tais políticas assinalam o compromisso do governo Lula com a realização dos objetivos de nossa República. Como ministra, Dilma Rousseff exerceu um papel central no sucesso dessa gestão. Cremos que sua chegada à Presidência representará a continuidade, aprofundamento e aperfeiçoamento do combate à pobreza e à desigualdade que marcou os últimos oito anos.

Há razões para duvidar que um eventual governo José Serra ofereça os mesmos prospectos. É notório o desprezo com que os programas sociais do atual governo – em particular o Bolsa Família – foram inicialmente recebidos pelos atores da coligação que sustenta o candidato. Frente ao sucesso de tais programas, José Serra vem agora verbalizar sua adesão a eles, quando não arroga para si sua primeira concepção. Não tendo ainda, passado o primeiro turno, apresentado um programa de governo, ele nos lança toda sorte de promessas – algumas das quais em franco contraste com sua gestão como governador de São Paulo – sem esclarecer como concretizá-las. O caráter errático de sua campanha justifica ceticismo quanto à consistência de seus compromissos. Seu discurso pautado por conveniências eleitorais indica aversão à responsabilidade que se espera de nossos representantes.

A cidadania exige o que Kant caracterizou como independência: o cidadão deve ser “seu próprio senhor”, por conseguinte possuir “alguma propriedade (e qualquer habilidade, ofício, arte ou ciência pode contar como propriedade) que lhe possibilite o sustento”. Os programas de transferência de renda implementados pelo governo não apenas ajudaram a proteger o país da crise econômica mundial – por induzirem o crescimento do mercado interno –, mas fortaleceram nossa democracia ao criar bases concretas para a cidadania de milhões de brasileiros. Se atentarmos ao seu formato institucional, veremos que eles proporcionam condições para a progressiva autonomia de seus beneficiários, ao invés de prendê-los em um círculo de dependência. Que mulheres e homens beneficiados por tais programas confiram seus votos às forças que lutaram por implementá-los não deve surpreender ninguém – trata-se, afinal, da lógica mesma da governança democrática.

Compromisso com a expansão e qualificação da universidade

Durante os oito anos do governo anterior, não se criou uma nova universidade federal sequer; os equipamentos das universidades federais viram-se em vergonhosa penúria; as verbas de pesquisa estiveram constantemente à mercê de contingenciamentos; o arrocho salarial, aliado à falta de perspectivas e reconhecimento, favoreceu a aposentadoria precoce de inúmeros docentes, sem a realização de concursos públicos para a reposição satisfatória de professores. O consórcio partidário que cerca a candidatura José Serra – o mesmo que deu guarida ao governo anterior – deve explicar por que e como não reeditará essa situação.

O atual governo tem agido não apenas para a recuperação do ensino superior e da pesquisa universitária, após anos de sucateamento, como tem implementado políticas para sua expansão e qualificação – com resultados já reconhecidos pela comunidade científica internacional. O PROUNI – atacado por um dos partidos da coligação de José Serra – possibilitou o acesso à universidade para mais de 700.000 brasileiros de baixa renda. Através do REUNI, as universidades federais têm assistido a um grande crescimento na infraestrutura e na contratação, mediante concurso público, de docentes qualificados. Programas de fomento, levados a cabo pelo CNPq e pela CAPES, têm proporcionado um sensível aumento da pesquisa em ciência e tecnologia, premissa central para o desenvolvimento do país. Foram criadas 14 novas universidades federais, testemunhando-se a interiorização do ensino superior no Brasil, levando o conhecimento às regiões mais pobres, menos desenvolvidas e mais necessitadas de apoio do Estado.

Em defesa do Estado laico e do respeito à diversidade de orientações espirituais

A Constituição Federal é clara na afirmação do caráter laico do Estado brasileiro. É garantida aos cidadãos brasileiros a liberdade de crença e consciência, não se admitindo que identidades religiosas se imponham como condição do exercício de direitos e do respeito à dignidade fundamental de cada um. É, pois, com preocupação que testemunhamos a instrumentalização do discurso religioso na presente corrida presidencial.

Em particular, deploramos a guarida de templos ao proselitismo a favor ou contra esta ou aquela candidatura – em clara afronta à legislação eleitoral. Dilma Rousseff, em particular, tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto e a liberdade de manifestação religiosa. Conclamamos ambos os candidatos ora em disputa a não cederem às intimidações dos intolerantes. Temos confiança de que um eventual governo Dilma Rousseff preservará o caráter laico do Estado brasileiro e conduzirá adequadamente a discussão de temas que, embora sensíveis a religiosidades particulares, são de notório interesse público.

Por essas razões, apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Para o povo brasileiro continuar em sua jornada de reencontro consigo mesmo. Para o Brasil continuar mudando!


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5 de outubro de 2010

Política & poesia

A poesia nos convida a sair da fixidez, a pensar contra o que parece óbvio, a repensar o que parece óbvio, de outros lugares, descobrindo novas possibilidades de reflexão.
O Brasil hoje vive uma disputa de dois projetos. Para escolher é preciso conhecer, ao menos, a sua história recente: o que houve nos dois governos do PT e o que aconteceu, nos campos estratégicos, nos dois governos do PSDB, bem como dos seus parceiros:o que é Alagoas com o governo do PSDB? O que é Pernambuco depois do governo do PSB, que apoia Dilma? Como está Sergipe, depois do governo do PT? O que é São Paulo do PSDB e como estão os estados governados pelo DEM (antigo PFL), vice do canditado do PSDB? Mas essa pesquisa não pode ser orientada apenas pela visão dos monopólios de comunicação no Brasil, aos quais estão diretamente ligados Veja, Istoé, Época, Jornal Nacional. Esses veículos tentam passar a imagem de que representam a visão da sociedade brasileira. No entanto, é bom lembrar que eles são empresas, e representam, na verdade, os interesses dos seus grupos proprietários, claro, como qualquer empresa; não são neutros, como nada é, aliás. Para que uma análise mais criteriosa seja feita, é fundamental o confronto de pontos de vista e do conhecimento de dados importantes sobre educação pública (que envolve concursos, bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado...), saúde pública, distribuição de renda. Em uma sociedade de longa história escravagista, qualquer proposta que vise melhorar a vida da maioria da população é execrada por aqueles que temem perder seus privilégios.
Uma pequena e autoritária elite controla o que circula na mídia, em quase toda ela, mas não em toda e, muitas vezes, os distraídos só repetem essa visão, de modo acrítico, na internet, sem nenhum amparo em textos de história econômica, política, cultural do Brasil. Espero que a reflexão seja possível, que não vença o medo e o constrangimento de pensar de modo diferente daqueles que querem que o Brasil seja apenas o lugar em que uma parcela mínima usufrui de riquezas imensas, enquanto a maioria sequer pode comer e viver em condições dignas. É sempre bom ouvir a poesia:

Congresso Internacional do Medo
Carlos Drummond de Andrade

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


    Mãos dadas

Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.