30 de outubro de 2011

Das raízes para as rotas

Esta foi uma das sínteses feitas ontem  à noite, na Bienal do livro de Maceió, pelo pensador italiano Massimo Canevacci (que, aliás, refuta a definição por nacionalidade, pois se diz romano, brasileiro, algo chinês, múltiplo, híbrido, polifônico, marcado por todos os lugares onde andou e viveu). Ele propõe, entre muitas outras coisas, que deixemos de lado a miragem das origens, retomada pela metáfora gasta das raízes, e pensemos na imagem das rotas, convite para viagens.



Autor de livros como A cidade polifônica e Culturas eXtremas (cuja indicação devo a Gláucia Machado), Canevacci lançou ontem Fake in China, um relato superficial, como ele mesmo o descreve, da sua permanência de seis meses como professor em uma universidade privada chinesa. O título é referência e homenagem ao clássico filme de Orson Welles, F for fake.

Sua palestra começou às 20h30, em um espaço muito barulhento, mas, apesar das condições ambientais adversas, foi maravilhoso ouvir alguém que se pauta pela experimentação em suas pesquisas; alguém que pesquisa principalmente modos de pesquisar produções simbólicas que  problematizam radicalmente os consagrados/congelados modelos  acadêmicos. Um pesquisador em busca de novas rotas, que propõe aos que o ouvem não que o sigam, mas que empreendam também essa busca marcada pela deriva, pela errância.

Vale ainda lembrar que foi Sheila Canevacci, bailarina e pesquisadora, casada com Massimo, que desmontou a farsa de Mônica Serra, nas eleições acerca do aborto, ao dizer no Facebook que ficou chocada com a hipocrisia de Mônica, uma vez que a esposa do então candidato a presidente já havia partilhado em sala de aula na Unicamp, em que Sheila era aluna, a sua dolorosa experiência.

Um trecho de uma das muitas entrevistas de Canevacci (feita por Julia Aguiar, no Overmundo, que pode ser lida integralmente aqui):

No livro, A Cidade Polifônica, o senhor comenta a necessidade d’a gente entender “os valores e modelos de comportamento que a cidade inventa”. Você poderia explicar.

A cidade para mim é como se fosse um organismo subjetivo, vital, que absorve como uma esponja o que acontece e elabora a sua própria linguagem. Esse tipo de linguagem que a cidade, especialmente a área metropolitana elabora, influencia profundamente um tipo de comportamento das pessoas que moram nessa área metropolitana. Por isso, poderia se dizer que a linguagem da metrópole é baseada sobre lugares, espaços, e principalmente sobre interstícios, isto é, interstício, um espaço que está in between, que está entre, um espaço conhecido e um desconhecido. Esses interstícios, favorecem um tipo de linguagem, que é dialogicamente interlaçado com a linguagem do corpo. E a linguagem do corpo de cada pessoa, para mim, é muito diferenciada culturalmente e comunicacionalmente, mais que sociologicamente. Isto é, é mais uma auto-percepção comunicacional que diferencia essas pessoas que uma diferenciação sociológica. Esse tipo de diferenciação, baseada sobre um tipo de linguagem do corpo e o tipo de linguagem dos interstícios, favorece uma dialógica nova, baseada muito na hibridização e em sincretismos culturais, e sobre extrema mobilidade e fluidez. Essa mobilidade, fluidez e hibridização, é parte da experiência cultural, corporal, e também urbanística, da metrópole contemporânea. 

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