5 de outubro de 2010

Política & poesia

A poesia nos convida a sair da fixidez, a pensar contra o que parece óbvio, a repensar o que parece óbvio, de outros lugares, descobrindo novas possibilidades de reflexão.
O Brasil hoje vive uma disputa de dois projetos. Para escolher é preciso conhecer, ao menos, a sua história recente: o que houve nos dois governos do PT e o que aconteceu, nos campos estratégicos, nos dois governos do PSDB, bem como dos seus parceiros:o que é Alagoas com o governo do PSDB? O que é Pernambuco depois do governo do PSB, que apoia Dilma? Como está Sergipe, depois do governo do PT? O que é São Paulo do PSDB e como estão os estados governados pelo DEM (antigo PFL), vice do canditado do PSDB? Mas essa pesquisa não pode ser orientada apenas pela visão dos monopólios de comunicação no Brasil, aos quais estão diretamente ligados Veja, Istoé, Época, Jornal Nacional. Esses veículos tentam passar a imagem de que representam a visão da sociedade brasileira. No entanto, é bom lembrar que eles são empresas, e representam, na verdade, os interesses dos seus grupos proprietários, claro, como qualquer empresa; não são neutros, como nada é, aliás. Para que uma análise mais criteriosa seja feita, é fundamental o confronto de pontos de vista e do conhecimento de dados importantes sobre educação pública (que envolve concursos, bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado...), saúde pública, distribuição de renda. Em uma sociedade de longa história escravagista, qualquer proposta que vise melhorar a vida da maioria da população é execrada por aqueles que temem perder seus privilégios.
Uma pequena e autoritária elite controla o que circula na mídia, em quase toda ela, mas não em toda e, muitas vezes, os distraídos só repetem essa visão, de modo acrítico, na internet, sem nenhum amparo em textos de história econômica, política, cultural do Brasil. Espero que a reflexão seja possível, que não vença o medo e o constrangimento de pensar de modo diferente daqueles que querem que o Brasil seja apenas o lugar em que uma parcela mínima usufrui de riquezas imensas, enquanto a maioria sequer pode comer e viver em condições dignas. É sempre bom ouvir a poesia:

Congresso Internacional do Medo
Carlos Drummond de Andrade

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


    Mãos dadas

Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


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