29 de junho de 2010

AO MAIOR


Hoje é dia de festa. São Pedro. Fogueira nas cidades do Nordeste, comida de milho, dança. Aqui toca Jackson do Pandeiro: forró e humor.
Hoje é dia de dupla festa: aniversário de Glauco Mattoso, que recebeu no batismo o nome de Pedro (tá lá na certidão de nascimento) em homenagem ao santo.
Dia de celebrar: dançando, cantando, lendo poemas, escrevendo poemas... Para começar/comemorar, dois sonetos do Maior:


SONETO 234 CONFESSIONAL
Glauco Mattoso

Amar, amei. Não sei se fui amado,
pois declarei amor a quem odiara
e a quem amei jamais mostrei a cara,
de medo de me ver posto de lado.

Ainda odeio quem me tem odiado:
devolvo agora aquilo que declara.
Mas quem amei não volta, e a dor não sara.
Não sobra nem a crença no passado.

Palavra voa, escrito permanece,
garante o adágio vindo do latim.
Escrito é que nem ódio, só envelhece.

Se serve de consolo, seja assim:
Amor nunca se esquece, é que nem prece.
Tomara, pois, que alguém reze por mim...


SONETO 214 AO MAIOR
Glauco Mattoso


Maior é o sentimento que o sentido.
Maior é a solidão do que a saudade.
Maior é a precisão do que a vontade.
Maior é Deus, segundo o desvalido.

Maior é o sabichão do que o sabido.
Maior é a servidão que a majestade.
Maior é o masoquismo do que Sade.
Maior é o meu poeta preferido.

Quem faz muito soneto, cedo ou tarde
acaba produzindo uma obra-prima,
contanto que não faça muito alarde.

Por trás da mera métrica ou da rima
esconde-se a coragem do covarde
e o medo, que jamais me desanima.

Um comentário:

  1. Poxa, taí um detalhe que eu desconhecia, o do níver do Glauco. E que ótimo ver o "Confessional" nesta pequena seleta, pois foi o primeiro soneto glauquiano que eu li.

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